Lúcifer
- Imbecil! Acaso esquece que pronunciar o nome é chamar o ser nomeado? Você mesmo não sabe o meu nome: poucos aqui sabem o meu nome. Não é por isso que os autodenominados exorcistas querem sempre saber o nome de qual dos meus filhos está valorizando o possuído?… E por respeito à minha casa não se fala aqui de conceitos antagônicos, isso não quer dizer nada. Nossa força reside no poder monolítico, uníssono. O que não somos nós não existe. Além do mais, aonde tens visto essas tais forças benevolentes, oh insolente criatura?… Chama por elas a ver se te auxiliam. O que eu vejo é a minha mão em toda parte e principalmente sobre ti.
- Vossa Alteza, pergunto porque preciso entender. O que é o Mal para uns é o benefício de outros, nessa rede de perdas e ganhos que é a vida humana. Acho difícil compreender que haja necessidade de toda uma estrutura de seres malignos para administrar aquilo que nós humanos já fazemos tão bem e com tanto gosto que é ferir uns aos outros. As pessoas acham que existe apenas um: “o Diabo”, um tipo de gerente irresponsável e perverso que leva a culpa de tudo. E estranhamente elas também acreditam que esse Diabo que as leva a cometer o Mal é o mesmo que as punirá por terem sido más, em flagrante contradição com a sua própria natureza, me parece. O Inferno, afinal, é algum tipo de estabelecimento penal, de função carcerária, onde se punem as ações que vocês mesmos inspiram?...
- Ridículo! Superstições de gente estúpida. Aqui não estamos punindo ninguém: cada um está apenas seguindo a sua própria natureza, continuam vivendo seus sonhos. Tudo é um sonho, você não sabe? Não fazemos sofrer ninguém, quem faz isso é o outro lado ao alimentar seus desejos de esperança e de justiça. Não somos carcereiros: somos irmãos. Já te disse: somos todos um. Quem quiser pode ir a qualquer hora, não temos grades aqui.